Minhas Crônicas

MINHA BIKE, MEU DIVÃ

Postado por em 02/nov/2023

Numa espécie de dança terapêutica dos pedais, encontro boas reflexões sobre minha bike e um divã. Na verdade, há algo de mágico em pedalar, uma sensação transcendental que se desdobra sobre mim enquanto o vento sussurra aos meus ouvidos. Poderia ser sobre os patins, mas é a bicicleta que evoca em mim uma sensação profunda, comparável àquela que se sente ao se deitar em um divã.

Numa dessas sessões, compartilhei com meu analista uma pequena anedota: “Lucas, percorri 56 quilômetros de bicicleta”. Num tom leve e despretensioso, deixei escapar que montar de bicicleta me traz uma sensação de sessão de psicanálise. É sobre ter tempo de qualidade para deixar a mente vagar. Quase tudo… pois muitas coisas não surgem elaboradas enquanto se pedala ou patina. Não é só felicidade, devaneios e o vento no rosto. Às vezes, pensamentos indesejados e pessoas indesejadas também aparecem, afinal, quem não as tem?

Durante um dos meus trajetos de treino, foram 56 quilômetros de estrada, com desafios, subidas extenuantes e descidas emocionantes, onde o meu eu infantil grita de alegria, e poucas curvas. Curiosamente, nas subidas, quando sou mais desafiado e o desconforto se torna presente, é quando os pensamentos mais recorrentes e perturbadores na vida me rodeiam. Às vezes, até questões existenciais se manifestam, evocando a melodia da canção de Chico Buarque: “O que será, que será… O que não tem certeza, nem nunca terá, o que não tem conserto, nem nunca terá, o que não tem tamanho”.

Penso que a bicicleta pode ser uma metáfora da liberdade e da essência vital do ser humano, em busca do amor e da necessidade de tê-lo, como retratado de maneira brilhante no filme “O Garoto da Bicicleta”, de Jean-Pierre e Luc Dardenne. Nessa obra, a bicicleta é o objeto de afeto do menino, representando liberdade, afeto e recomeço. Como os personagens desse filme, que anseiam por uma conexão mais profunda, eu também me encontro na busca por algo mais, enquanto as rodas giram.

Refletindo sobre minha própria bicicleta, percebo que enquanto sustenta o peso do meu corpo, ela também liberta as pernas para sonhar e explorar tanto a imaginação quanto o mundo ao redor. Os olhos, como espelho da alma, refletem as paisagens internas e externas, levando-me em uma jornada que se entrelaça entre o interior e o exterior, um movimento contínuo que os pedais giratórios entendem tão bem.

A lição mais valiosa que aprendi com as minhas pedaladas é olhar para frente. A bagagem da vida, com suas dores, acertos e erros, pesa menos do que a incerteza do futuro e a falta de vontade de olhar para trás. Não se trata de negar o passado, mas de abraçar a incerteza com paciência e coragem. Como em uma sessão de psicanálise, vou desvendando caminhos, um pedal de cada vez, um dia de cada vez.

Lembro-me de um encontro especial com um colega, o saudoso Otávio Totes, onde trocamos experiências sobre nossos objetos de devoção, eu com a bicicleta e ele com a prancha de surfe. Surpreendentemente, ele compartilhou da minha visão, sentindo-se verdadeiramente em um divã enquanto deslizava sobre as ondas, refletindo sobre suas próprias questões pessoais.

Assim como a terapia, a bicicleta se revela como um refúgio, um lugar onde desaparecemos quando queremos e nos encontramos quando precisamos. É uma jornada que se desdobra a cada pedalada, um lembrete constante de avançar em direção ao desconhecido com paciência e determinação. Um pedal de cada vez, um dia de cada vez. Pedale !

Um abaço, Roberto Marinho – Publicitário e Psicanalista

Bem, gosto, quase que, exageradamente, de músicas de todos os gêneros (embora, que, as do coração mesmo, são: Pop Music e Pop Rock ) – Ou seja, letras e músicas que se equalizem à minha frequência vibracional, com ritmo bem marcado e definido; cantadas por vozes negras, que utilizam vibratus, falsetes e melasmas! Se houver backvocal acompanhado por orquestra – melhor ainda.... (continuar lendo)