A música, queridos leitores, é como um portal secreto para o território das sombras, onde reside o nosso insconsciente, aquele vasto oceano de pensamentos e emoções que não ousamos trazer à tona na luz do dia. As notas musicais, a melodia, a harmonia e o ritmo nos conduzem por caminhos que nossa mente consciente mal ousa percorrer. Elas sussurram verdades escondidas, segredos inconfessáveis, e nos permitem explorar territórios da alma que nossa voz e nossas palavras jamais ousariam habitar.
Quantas vezes, nos encontramos cantando junto com uma canção, sem ao menos refletir sobre o significado profundo das palavras? “Eu nasci assim, eu cresci assim, vou sempre assim… sempre Gabrielaaaaa!” É como um mantra que podemos repetir sem cessar, sem entender completamente o que estamos afirmando. É uma postura diante da vida, uma afirmação de identidade, mas será que realmente compreendemos quem somos, onde estamos e até onde não somos?
Freud, o grande explorador das profundezas da mente humana, já nos alertava que “Existo onde não penso”. Essa é a semente da psicanálise, a noção do inconsciente, o guardião de nossa verdadeira identidade, aquilo que está escondido nas sombras de nossa psique. E Lacan, mais tarde, aprofundou essa ideia ao proclamar: “Sou onde não penso, penso onde não sou”. Aqui, ele nos convida a mergulhar nas águas escuras do inconsciente, onde somos, mas não sabemos que somos, onde pensamos, mas não sabemos que pensamos.
Lacan nos desafia a questionar a própria consciência, essa ilusão que muitos consideram como o centro de seu universo, o controlador de pensamentos e desejos. Mas na verdade, somos marionetes, e nosso titereiro é o inconsciente, aquele mestre das sombras que manipula nossos fios invisíveis. Nossa linguagem, nossos pensamentos, tudo isso são camadas que escondem o verdadeiro eu, como as bonecas russas, onde cada camada revela uma parte mais profunda de nossa psique.
Então, não se iluda com a ideia de um “Ser pensado”. O pensar não garante a existência, e a falta de garantias permeia tanto o Ser como o pensar. A música, com suas melodias misteriosas, nos lembra que somos muito mais do que nossas palavras e pensamentos conscientes, e que a verdadeira jornada do autoconhecimento nos leva a explorar os territórios sombrios do insconsciente, onde a música da alma ecoa em notas desconhecidas.
Portanto, te convido a buscar a sua própria melodia, aquela que ressoa com a sua essência, que te faz sentir vivo e conectado com o mistério da vida. Deixe-a te guiar nas trilhas secretas do seu ser, e quem sabe, você descubra que a música tem muito a dizer sobre quem você é e quem você pode vir a ser. É assim que ela sussurra os segredos mais profundos da nossa existência, nas notas que ecoam para além do tempo e do espaço.
Um abraço,
Roberto Marinho – Publicitário e Psicanalista